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A Sabedoria dos Anos

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Em uma pequena cidade ao pé de uma cadeia de montanhas cobertas por neves eternas, vivia um idoso chamado Evaristo. Apesar da idade avançada, sua mente era tão afiada quanto as cristas gélidas que se erguiam em contraste com o céu. Seu corpo, contudo, começara a sentir o peso dos anos, movendo-se com uma morosidade que contradizia o vigor com o qual ele encarava cada novo amanhecer.

Evaristo costumava passar seus dias na praça central da cidade, um lugar cercado por árvores frondosas que emolduravam os caminhos de pedra desgastada pelo andar constante de inúmeras gerações. Lá, ele sentava-se em um dos bancos de madeira, mão firmemente apoiada em sua bengala, olhos atentos ao movimento das pessoas, observando o vai e vem da vida cotidiana.

Naquela mesma praça, jovens corriam atrás de seus sonhos, crianças brincavam esquecendo-se do tempo, e adultos corriam contra o relógio. Evaristo, no entanto, já havia aprendido a lição de que o tempo deve ser um amigo, não um adversário a ser batido em uma corrida sem fim.

Uma tarde, uma menina aproximou-se dele, curiosa com a presença daquele senhor que, para ela, parecia tão imóvel quanto o tempo contido nas páginas de um livro de histórias antigas. “Por que você sempre está aqui, senhor? Não fica entediado?”, indagou com a inocência típica da infância.

Evaristo sorriu, rugas de uma vida bem vivida aprofundando-se em seu rosto. “Minha jovem”, ele começou, “aqui eu aprendo todos os dias. Aprendo observando as pessoas, aprendo com as histórias que os ventos trazem até mim. E não, a aprendizagem nunca é entediante.”

A menina, intrigada, sentou-se ao seu lado. “E o que você aprende? Tudo parece sempre igual para mim”, ela confessou.

“Ah, mas não é”, Evaristo assegurou. “Cada dia traz seu próprio conjunto de lições. E sabe de uma coisa? O aprendizado não pede pressa. Ele não tem idade. Não importa quantos anos eu tenha, eu nunca desisto de aprender; e você também não deveria.”

Dias transformaram-se em semanas, semanas em meses, e a menina tornou-se uma visitante frequente na praça, buscando a companhia de Evaristo e as pérolas de sabedoria que ele dispunha a compartilhar. Ela começou a entender que cada falha era uma oportunidade de aprender e que, ao contrário do que muitos poderiam pensar, nunca era tarde para tentar algo novo, para mudar de direção ou buscar um novo destino.

Certo dia, com o brilho das folhas outonais a circundar a praça, a menina trouxe um violino, reluzindo sob o sol que se filtrava através das copas. “Eu quero aprender a tocar, mas é difícil”, ela confessou, as notas iniciais saindo trêmulas e incertas.

Evaristo a encorajou com paciência e um sorriso suave. “A persistência é a melodia da vida. Vou te dizer um segredo: é nos momentos difíceis, quando pensamos em desistir, que a verdadeira aprendizagem se revela.”

Ao passar dos meses, as notas inseguras da menina transformaram-se em música fluída, cada melodia uma prova da resiliência humana e do valor de nunca ceder ao fácil encanto do desistir. Ela tocou para um público que crescia, mas a performance mais importante sempre foi para seu fiel amigo e mentor, Evaristo.

E assim, quando o ciclo da vida levou Evaristo da praça para uma jornada além dos montes e vales, a menina, agora uma aprendiz dedicada, deixou-se ficar no mesmo banco de madeira. Contemplando os mesmos caminhos de pedra, ela sussurrou para as folhas que dançavam com o vento, compartilhando a lição que ecoaria por todos os tempos: “Tudo o que vale a pena requer esforço e tempo. A vida é um eterno aprender, e nunca devemos desistir de crescer com cada novo raiar do sol.”

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