A planície se estendia como um tapete verde e dourado, salpicado de flores silvestres e cortado por riachos cristalinos. Árvores generosas ofereciam frutos, o vento cheirava a grãos maduros, e o canto dos pássaros tecia a melodia dos dias. Ali, todos os habitantes viviam em harmonia, como quem entende que a vida é mais bela quando partilhada, como uma grande casa onde cada coração é acolhido.
Entre os moradores, um grupo de crianças e animais se destacava pela alegria e pelo cuidado. Tomás, um garoto curioso, adorava explorar novos lugares e descobrir caminhos entre as ervas altas. Lia, menina bondosa, tinha mãos pequenas e um coração grande: se alguém precisava, ela já estava lá. Bingo, o cachorro leal, latia de felicidade e mantinha todos por perto, atento a qualquer perigo. Mia, a raposa astuta, preferia observar de longe, mas o seu olhar escondia um grande coração. E Tico, o pássaro cantor, enchia o ar de conselhos em melodias claras.
Nos dias tranquilos, espalhavam sementes, consertavam cercas e guiavam filhotes de volta aos ninhos. Tico cantava: “Cada dom é um presente que se multiplica quando é partilhado”. Tomás descobria fontes escondidas, Lia organizava a colheita, Bingo vigiava os caminhos, e Mia, com sua esperteza, achava soluções simples para problemas complicados. Era como um tear invisível: cada gesto, um fio; cada coração, um nó que fortalecia o tecido da convivência.
Até que, certa tarde, o horizonte escureceu. Tico foi o primeiro a perceber o recado do vento: nuvens densas galgavam a planície, e o rio murmurava mais alto. Os animais silenciaram, e os pequenos se entreolharam. A tempestade se aproximava, grande o bastante para ameaçar casas, hortas e ninhos.
Tomás tomou a frente: sugeriu mapear as passagens mais altas. Lia correu para avisar os mais velhos e acolher os menores. Bingo disparou em círculos, reunindo o grupo, enquanto Tico voava adiante, marcando com seu canto os caminhos mais seguros. Mia, franzindo o olhar esperto, propôs abrir valas para desviar a água e reforçar os telhados com varas de bambu e tranças de capim. Antes de começarem, deram-se as mãos — patas e asas também — e, em silêncio breve, fizeram uma pequena oração, pedindo coragem e proteção. A fé deu-lhes serenidade para agir.
Quando a tempestade chegou, o céu trovejou como um tambor distante. A chuva, pesada, tentava dobrar a planície. Mas ali havia mais do que casas: havia braços unidos. Tomás guiou uma corda entre as árvores para que ninguém se perdesse no vento. Lia abrigou duas crianças assustadas, sussurrando uma Ave-Maria e enxugando lágrimas com a barra do vestido. Bingo atravessou a enxurrada para resgatar uma cesta de remédios que a água quase levou. Mia cedeu o próprio abrigo para servir de refúgio aos mais frágeis e supervisionou as valas, que conduziram a água para longe das portas. E Tico, mesmo com as asas pesadas, não parou de cantar, acalmando corações e guiando os passos com notas firmes.
Quando a noite cedeu lugar às primeiras luzes da aurora, a planície respirou de novo. Algumas folhas estavam espalhadas, troncos tombados, mas as casas permaneciam de pé e os ninhos, protegidos. O rio, contido pelas valas, voltava lentamente ao seu leito. Mia, tocada pela coragem dos amigos, entendeu que a astúcia é mais bela quando serve ao bem. E as crianças, cansadas e sorridentes, sabiam que aquela vitória tinha muitos nomes: cuidado, presença, doação.
Naquele dia, ao redor de um caldo quente e fatias de pão, todos celebraram. Não foi a força de um que venceu a tempestade, mas o amor que os uniu como laços invisíveis. Como na família de Nazaré, aprenderam que cada um tem um lugar e um serviço, e que Deus faz morada onde há unidade. Tico resumiu a lição numa canção mansa, enquanto o sol secava a última lágrima da noite.
Moral: Quando as tempestades chegam, a maior coragem é estar presente. Mãos que rezam e trabalham juntas levantam telhados, curam medos e guardam corações. Laços familiares se tecem no cotidiano e revelam sua força nos momentos difíceis; é na união que encontramos abrigo e esperança.
