Em uma vila antiga, havia um galo que cantava ao amanhecer, sem falhar, anunciando um novo dia. Este galo, de penas brilhantes e olhar atento, era conhecido por todos, mas não era amado por todos.
“Por que ele canta tão alto?” reclamava o ferreiro, que desejaria dormir mais, após longas noites de trabalho.
“Ele anuncia a esperança”, dizia a padeira, sorrindo ao preparar seu pão.
Entre amor e desagrado, o galo seguia cantando, um símbolo de persistência e coragem na pequena vila.
Certo dia, chegou um visitante, um homem de terras distantes, que não gostava de nada que perturbasse seu sono. “Esse canto precisa acabar”, ele declarou, na praça da vila, diante de todos. Era um homem de poder, um vilão para a harmonia da vila.
“Mas ele traz o novo dia”, argumentou uma criança, olhando para o galo com admiração.
“Silêncio, ou farei o silêncio acontecer”, ameaçou o estrangeiro, com um sorriso maldoso.
A vila se dividiu. Alguns, temendo o poder do visitante, concordaram em silenciar o galo. Outros, inspirados por sua mensagem de esperança, defenderam seu direito de cantar.
“Ele não faz mal a ninguém”, disse o velho sábio da vila. “Ele nos ensina sobre a passagem do tempo, sobre acordar para a vida.”
“Vamos aprender a conviver com nossas diferenças”, sugeriu a padeira, “como aprendemos a amar o canto deste galo.”
O debate se acirrou, até que o visitante, vendo que não poderia vencer pela força, propôs um desafio. “Se o galo puder cantar de um jeito que até eu aprecie, deixarei que ele continue. Caso contrário, ele será banido.”
A noite antes do desafio foi longa e silenciosa. Pela primeira vez, o galo parecia preocupado com seu destino.
Ao amanhecer, quando os primeiros raios de sol tocaram o horizonte, o galo subiu no telhado mais alto. Olhou ao redor, vendo o rosto expectante de todos na vila – amigos e inimigos. E então, ele cantou.
Mas não foi um canto qualquer. Foi um canto suave, quase um sussurro, que crescia em volume e beleza, até que mesmo o coração endurecido do visitante foi tocado.
“Lindo…”, murmurou o vilão, uma lágrima escapando de seus olhos. “Eu nunca soube que um canto poderia ser assim.”
A vila toda respirou aliviada e, naquele momento, todos entenderam algo importante. A tolerância e o respeito nasceram não do silêncio, mas da capacidade de ouvir e apreciar as diferenças.
O galo foi abraçado por todos, até mesmo pelo visitante, que aprendeu uma lição valiosa sobre a beleza da diversidade.
“Vamos celebrar”, disse a criança, a primeira a defender o galo, “nosso canto trouxe mais do que o dia. Trouxe entendimento.”
E assim, naquela vila antiga, um simples galo ensinou a todos o valor de tolerar e respeitar as vozes de cada um, por mais diferentes que sejam, pois dentro delas pode residir uma beleza surpreendente.