No alto do Posto de Guarda, uma varanda de madeira vigiava a curva do caminho e a borda da floresta. O Corvo (Observador) repousava no beiral como quem lê as linhas do vento; a Tartaruga (Paciente) aquecia-se junto à pedra, respirando devagar, enquanto a Lanterna (Iluminação) pendia de um prego, adormecida à espera da noite, e a Bússola (Direção) descansava sobre a mesa, com a agulha fiel apontando o norte que não engana. Ali, onde se vigia o que vai e o que vem, a vida parecia pronunciar uma oração silenciosa.
Chegou o Coelho (Impulsivo), com o peito em pequenos tambores. Queria colher trevos além da mata, antes que o sol baixasse. Os olhos brilhavam de pressa. O Corvo, em voo curto, pousou mais perto, como quem aconselha sem impor. A Tartaruga ergueu o rosto e sugeriu pausa, um gole de água, um pensamento inteiro antes do primeiro salto. A Lanterna nada disse, mas a sua quietude lembrava que a luz serve antes de correr; e a Bússola, imóvel, lembrava que direção precede velocidade.
O Coelho bateu o pé na tábua e partiu. A floresta o recebeu com sombras longas e folhas que sussurravam promessas. Caminhos se multiplicaram como espelhos, e, no afã de escolher o atalho mais curto, ele entrou em círculos sem perceber. O rumor de uma nascente virou miragem; o brilho de um fruto virou engano. Sem a luz acesa nem o norte no coração, a pressa transformou o mapa em labirinto.
No Posto de Guarda, o Corvo abriu as asas e a Tartaruga acendeu a Lanterna. A Bússola foi tomada com cuidado, como quem segura um conselho antigo. Houve um instante de oração, do tipo que cabe no intervalo entre dois suspiros.
Senhor, sê luz para os nossos passos e guia para o nosso rumo. Ensina-nos a vigiar e a esperar.
Então partiram: o Corvo sobre os galhos, a Tartaruga firme nas pegadas, a Lanterna abrindo um rio de ouro entre as raízes, a Bússola marcando a fidelidade do norte.
A cada encruzilhada, a Lanterna diferenciava o real do ilusório: ervas que brilhavam por engano perdiam o feitiço quando tocadas pela claridade. A Bússola, paciente, recusava as seduções dos desvios fáceis e apontava o caminho estreito. O Corvo chamava de cima, em notas curtas que eram como sinais. O Coelho ouviu, por fim, e em vez de disparar em outra direção, assentou-se. Lembrou-se da Tartaruga, que um dia lhe dissera que a espera é uma forma de coragem. E, sentado, ouviu melhor: o prumo do silêncio mostrou-lhe onde estava o coração.
Quando se encontraram, não houve repreensão. Houve abraço. A Lanterna iluminou os olhos do Coelho, e ele viu o próprio cansaço; a Bússola tocou-lhe as mãos, e ele sentiu a doçura de um rumo. O Corvo pousou no ombro da Tartaruga, como selo de reconciliação. Voltaram ao Posto de Guarda, e o crepúsculo os recebeu com uma paz que não se improvisa. Ali, rezaram com as palavras antigas, que são sempre novas: Vigiai e orai
(Mt 26,41). Porque vigiar é guardar o coração, e orar é acender a luz que mostra o passo seguinte.
Desde aquele dia, o Coelho não deixou de correr; mas aprendeu a começar ajoelhando. Toca a Bússola antes do salto, pede à Lanterna sua clareza, escuta o Corvo e espera ao lado da Tartaruga quando a neblina é densa. Entendeu que a paciência não é demora vazia, mas confiança na hora de Deus; que a reflexão não é medo, mas amor à verdade que liberta; que a comunidade vigia conosco e nos traz de volta quando nos perdemos. E assim o Posto de Guarda tornou-se menos um lugar e mais um hábito do coração.
Moral: Quem vigia e ora aprende a distinguir a ilusão do caminho; a paciência abre o ouvido, a observação acende a luz, e a direção reta nasce de um coração que se detém para escutar a vontade de Deus antes de avançar.



