Na vila ribeirinha de Santa Marina, onde o sino da capela marcava as horas e o rio repetia as nuvens, havia uma oficina de barro que cheirava a terra molhada e lenha. Lucas, jovem oleiro, desejava provar seu valor antes da romaria de Pentecostes. Olhava o forno como quem olha um relógio, impaciente por ver pronto o cântaro mais bonito da feira. Em sua pressa, confundia esforço com fruto, oração com fórmula, e o coração com o fole que insistia em acelerar.
Nesse lugarejo, três figuras lhe cruzavam o caminho: Mestre Anselmo, de mãos enrugadas como margens do rio, que falava pouco e via muito; Dona Alda, tecelã viúva, que sabia esperar o fio encontrar o desenho; e Frei Miguel, monge do pequeno mosteiro, que levava pão e bênção às casas. Cada um, à sua maneira, repetia a Lucas que há tempos de amassar, de repousar e de queimar, mas ele se julgava atrasado para todas as coisas que desejava oferecer.
Na véspera da romaria, ao perceber que a argila ainda suava umidade e o esmalte pedia mais calma, Lucas cedeu ao atalho do ímpeto. Abriu mais a comporta do forno, atiçou a brasa, e o calor subiu como vento de deserto. O brilho prometeu pressa, e o jovem sorriu cedo demais. Um estalo seco, depois outro, cortou a noite: o cântaro destinado à água da procissão fendeu-se em duas veias. O sino tocou Vésperas; no choque entre correr e parar, seu peito viu o próprio clímax. Ele apertou os punhos, pronto para queimar outro lote às cegas, quando, na porta, uma sombra mansa apareceu.
Era Frei Miguel, trazendo na palma uma semente de oliveira. Colocou-a no torno e falou baixo, como quem não quer competir com o fogo: “O barro e o coração não amadurecem sob gritos, mas sob guarda”. Fez silêncio e abriu a Escritura que carregava junto ao hábito, apontando com o dedo manchado de farinha:
Sede, pois, pacientes, irmãos, até a vinda do Senhor. Vede como o lavrador espera o precioso fruto da terra, aguardando-o com paciência até receber as primeiras e as últimas chuvas.(Tg 5,7)
Lucas sentiu vergonha arder mais que o forno. O monge ergueu o cântaro trincado: “Guarda-o. Ele te lembrará que a pressa é um fogo que não sabe cuidar.” Na manhã seguinte, Lucas começou de novo. Amassou a argila até que a bolha de ar confessasse seu segredo, deixou o barro repousar sem relógio, e, enquanto esperava, rezou com as mãos abertas, como quem oferece o vazio que Deus pode encher com o seu tempo.
Plantou, no canteiro ao lado, a semente de oliveira que recebera, e aprendeu a vigiar sem arrancar o broto. No forno, alimentou o fogo com disciplina, menos espetáculo, mais fidelidade. Observou o esmalte brilhar quando quis, não quando ele queria; mediu o calor com o ouvido e com a paz, não com a ansiedade. E, pouco a pouco, o barro ganhou memória, o fogo ganhou mansidão, e o coração de Lucas ganhou ritmo para servir sem se atropelar.
Chegou a romaria. Suas peças soavam claras quando tocadas, como pequenos sinos respondendo ao grande. Levou o cântaro mais belo ao altar de Nossa Senhora e o encheu de água para os peregrinos. Ninguém notou a demora que custou nascer; Deus notou. Ao lado, manteve exposto o vaso trincado com um raminho de oliveira dentro, e muitos perguntavam. Lucas sorria e dizia: “Foi meu mestre de ritmo.” No íntimo, descobriu que esperar também é amar.
A aldeia aprendeu junto com ele que a paciência não é inércia, mas confiança ativa no tempo de Deus. Quem apressa o fogo quebra o vaso e fere a obra; quem permanece, permite que a graça dê liga àquilo que somos. Paciência é caridade com o dia de hoje e esperança pelo amanhã. E, como a oliveira, os frutos mais firmes chegam quando a raiz se deita profunda no silêncio.