O Tempo da Videira
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O Tempo da Videira

Nos corredores silenciosos de um antigo mosteiro entre montanhas, o claustro guardava uma videira velha, retorcida e fiel. O sino marcava as horas como quem marca sulcos no coração, e os noviços aprendiam que algumas lições não chegam pela pressa, mas pela perseverança. Irmão Lucas, ardente e recém chegado, desejava ver resultados antes que as estações mudassem. Já Frei Bento, jardineiro do Senhor e decano do horto, falava pouco, mas suas mãos sabiam o idioma do tempo.

Certo dia, Lucas decidiu que a videira precisava de mais vigor. Aumentou a água, aparou ramos com zelo exagerado e amarrou brotos com cordas curtas, tentando guiar a seiva como quem guia um cavalo. Frei Bento o observou e murmurou com bondade que a raiz não corre e o céu não aceita relógio humano. Convidou o noviço a sentar ao lado e rezar salmos, lembrando que a árvore ao ribeiro floresce por causa da confiança, e não da ansiedade que estala como madeira verde.

Na noite de uma sexta feira, um vento frio desceu pelas encostas e trouxe uma geada fora de época. Os ramos forçados, ainda tenros, rangeram e alguns se partiram. Lucas correu ao claustro com o coração na garganta e sentiu culpa por ter apressado o que não sabia crescer. O Abade Tomás recolheu os irmãos, ergueu uma lamparina diante do crucifixo e leu, com simplicidade que aquece, uma palavra que parecia escrita para aquele momento. E todos compreenderam que o lavrador é mais santo quando sabe esperar do que quando domina a foice.

Sede pacientes, como o lavrador que espera o fruto precioso da terra, firmando o coração até que venha a chuva.

Nos dias seguintes, Frei Bento mostrou ao noviço que os ramos poupados e as raízes não perturbadas haviam resistido. O que fora feito com calma tinha se preparado por dentro. O mosteiro seguiu o compasso do Ofício Divino, e Lucas, em silêncio, aprendeu a oferecer sua urgência como quem coloca água no jarro, aguardando o momento do vinho. Confessou a pressa, recebeu como penitência cuidar sem tocar por uma semana, rezando antes de agir. Descobriu que a graça trabalha quando aparenta nada fazer.

Quando chegou a colheita, os cachos que amadureceram sem violência tinham doçura inesperada. No lagar, as uvas renderam mosto perfumado, e um jarro foi reservado para o vinho do altar. Lucas, segurando o aroma entre as mãos, entendeu sem discurso que sua pressa só havia quebrado o frágil, enquanto a espera de Bento, unida à oração, havia gerado algo que se tornaria oferta. O tempo que parecia vazio estava cheio do Autor do tempo.

A videira ensinou o que muitos livros não alcançam. A paciência não é resignação triste, mas confiança ativa que respira, reza e faz o que cabe hoje, entregando o restante à providência. Em cada demora, a alma pratica o amor que não exige garantias e se alinha ao ritmo da eternidade. Lição moral: a paciência é a arte de cooperar com Deus, esperando com fé o momento certo, para que o fruto seja doce e sirva ao bem maior.

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