Em tempos antigos, numa floresta radiante, havia um riacho que serpenteava por entre as árvores. Suas águas eram claras como cristal e atraíam todos os animais da região. Contudo, havia uma raposa chamada Lira e um coelho chamado Bico, que nunca se falaram. A raposa era conhecida por sua inteligência astuta, enquanto o coelho era famoso por sua rapidez e bondade.
Certa manhã, Lira estava à beira do riacho, observando os peixes que nadavam. Sem aviso, Bico pulou próximo, assustando-a.
— O que você está fazendo aqui, coelho? — perguntou Lira, com um tom desdenhoso.
— Estou apenas bebendo água, raposa. Não quero problemas — respondeu Bico, tentando se afastar.
— Pois eu sou a rainha do riacho. Não tenho tempo para a insignificância de um coelho! — disse Lira, balançando a cauda.
Mas, ao se afastar, ela escorregou na beira molhada, caindo imediatamente na água. Bico, vendo a cena, hesitou.
— Precisa de ajuda? — perguntou, com preocupação.
— Nunca! — gritou Lira, enquanto se debatia.
No entanto, à medida que a correnteza a arrastava, sua expressão mudou de desdém para medo.
— Por favor, eu não posso nadar! — implorou Lira.
Bico, movido pela compaixão, pulou na água e nadou até ela.
— Agarre-se a mim! — disse ele, estendendo a patinha.
Com relutância, Lira se agarrou, e juntos conseguiram chegar à margem. Tremendo, a raposa olhou para o coelho.
— Por que você me ajudou, mesmo eu sendo cruel? — perguntou Lira, perplexa.
— Porque a vida é feita de escolhas. E você merece uma chance — respondeu Bico, sorrindo.
A partir daquele dia, a raposa e o coelho tornaram-se amigos. Aprenderam que, mesmo nas diferenças, é possível encontrar forças para se ajudar. O riacho, com seu murmúrio suave, passou a ser um símbolo de amizade e respeito entre eles.
E assim, a história de Lira e Bico se espalhou pela floresta, lembrando a todos que a verdadeira grandeza vem da tolerância e do respeito às diferenças.