Numa pequena aldeia, esquecida pelo tempo, havia um galo chamado Aurélio. Sua plumagem reluzia como ouro ao sol e seu canto era mais harmonioso que as canções dos bardos. Naquela aldeia, cada habitante tinha sua opinião, e elas muitas vezes entravam em conflito, como tempestades no céu claro.
Certa manhã, uma criança chamada Clara, com sua inocência radiante, decidiu que queria ouvir o galo cantar. Acreditava que seu canto traria paz entre os habitantes, pois em seus olhos, a harmonia da natureza se refletia. As vozes discordantes já eram frequentes, e Clara desejava que todos se unissem como as flores no campo.
Ao amanhecer, Clara correu até o poleiro de Aurélio. A aldeia estava agitada: uns queriam construir uma nova ponte, enquanto outros defendiam a preservação do antigo caminho. A discussão crescia até que, então, Clara começou a gritar: “Aurélio, cante!”. Mas o galo, surpreso e sem entender o chamado da menina, apenas olhou para ela.
Desesperada, Clara se lembrou de que Aurélio era um símbolo de voz e união. Com isso em mente, levantou-se e disse a todos: “Escutem! Se nós não nos unirmos, o nosso canto nunca será harmonioso!”
Os aldeões, intrigados pela criança, se calaram para ouvir o que ela tinha a dizer, e Clara explicou que a diversidade de opiniões poderia ser um belo arranjo, se fossem ouvidas com respeito. Minha avó sempre dizia que a cada manhã, o galo canta para lembrar que um novo dia traz novas esperanças. E assim como o galo canta pássaros diferentes, cada um de nós tem algo seu a oferecer.
Neste momento, Aurélio, despertado pela sinceridade da criança, ergueu seu peito e cantou. O canto ecoou pela aldeia, e com ele, as vozes começaram a se entrelaçar. As diferenças não desapareceram, mas foram respeitadas e acolhidas. A aldeia aprendeu que, como o galo, suas vozes podiam soar juntas, criando uma sinfonia rica e diversa.
Clara sorriu ao perceber que até o galo, com seu canto, havia se tornado um símbolo de unidade. E ao final daquele dia, as ideias se transformaram em colheitas, e as opiniões, em pontes. A sabedoria da aldeia estava ali, refletindo que cada voz importa, assim como a luz de cada estrela no vasto céu.