Era uma vez, em um castelo esquecido pelo tempo, habitavam dois objetos de valor inestimável: um cálice de ouro incrustado de pedras preciosas, e uma espada de prata com cabo de marfim. Eles eram mantidos no mais alto patamar da torre mais alta, onde raros raios de sol os beijavam pela manhã.
— Quão solitários somos! — lamentou o cálice num dia em que a brisa fluía suave pela janela aberta.
— Solitários, sim, mas nobres — respondeu a espada, refletindo a claridade no polido de sua lâmina. — E apesar de nossa solidão, mantemos nossa importância.
O cálice, apesar de concordar com a espada, sentia dentro de si um vazio, uma vontade de servir para algo além de ser apenas admirado. Almejava por alcançar a verdadeira grandeza: a de fazer o bem sem olhar a quem.
Veio então o dia em que o castelo recebeu visitas. Um grupo de viajantes cansados buscou refúgio na antiga fortaleza e, ao encontrarem os dois objetos magníficos, maravilharam-se com sua beleza.
— Como pode tal cálice glamoroso estar aqui, abandonado? — questionou uma mulher com o rosto marcado pelo cansaço.
— E que espada magnífica! — exclamou um homem com as roupas rotas pela jornada.
Foi nesse momento que o cálice teve uma ideia.
— Amiga espada, está vendo esses pobres viajantes? Podemos ser úteis a eles — sussurrou o cálice, ansioso.
— Úteis? Mas para que? — indagou a espada, confusa com tal pensamento.
O cálice explicou:
— Podemos oferecer caridade! Permita-me ser usado para dar de beber a esses viajantes. E você, espada, poderia garantir a proteção no restante de sua caminhada.
— E se nos perdermos? E se não mais voltarmos a este lugar de honra?
— A verdadeira honra — replicou o cálice com a voz embargada pela emoção — está em servir. E que maior honestidade há do que reconhecer nosso verdadeiro propósito? De que vale a riqueza se não for compartilhada?
Após uma pausa, a espada, impressionada pela argumentação do cálice e tocada pelos olhares fatigados dos viajantes, concordou.
— Que assim seja, cálice. Que nossa riqueza sirva para aliviar o sofrimento destes viajantes.
Um dos homens se aproximou e, com reverência, ergueu o cálice, servindo água límpida aos seus companheiros. A mulher, já com o semblante revigorado, segurou a lâmina da espada com respeito, sentindo a segurança imbuída em seu metal.
Ao anoitecer, o grupo partiu, levando o cálice e a espada junto a eles. E dessa maneira, o cálice e a espada continuaram sua jornada de generosidade e verdade, prestando auxílio e proteção a incontáveis almas, tornando-se lendas vivas por toda a terra.