Harmonia da Casa Humilde
It might be abandoned but still beautiful
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Harmonia da Casa Humilde

Em uma pequena e rústica casa, onde as paredes ainda guardavam o calor das mãos que as moldaram e o chão de terra batida conhecia o peso de cada passada, a vida seguia seu curso com uma tranquilidade atípica. Não havia luxos ou adornos neste lar; apenas o essencial para uma vida modesta, mas cada objeto ali presente parecia ser investido de uma alma própria, testemunha silenciosa do cotidiano de seus habitantes humanos.

Conta-se que nas manhãs mais claras, quando o sol se esgueirava pelas frestas e iluminava a pequena mesa de madeira no centro da cozinha, certos diálogos aconteciam entre os encarregados de manter a paz e a paciência daquele lar.

— Bom dia, senhor Relógio! — cumprimentava a chaleira, com um brilho suave refletido de seu corpo recém-polida. — Como vão as horas hoje?

— Lentas e firmes, minha cara — respondia o Relógio de Parede, seus ponteiros deslizando com a serenidade de quem conhece a eternidade. — Lento demais para os jovens, rápido demais para os velhos, mas sempre no tempo certo para quem sabe esperar.

Contrastando com a paciência do relógio, uma pequena Colher, inquieta em sua gaveta aberta, intervinha:

— Eu gostaria que o tempo andasse mais rápido! Há muito a fazer e eu estou pronta para ajudar!

Do outro lado da cozinha, sob o olhar calmo de um Pote de Cerâmica, uma velha Cadeira dedilhava uma canção imaginária com suas pernas desgastadas. — Ah, Colher, sempre ávida por aventuras. Mas não vê que a beleza se esconde nos momentos calmos que tanto foge?

— Como você, Cadeira, que suporta o peso das decisões e oferece repouso, também preciso sentir que sirvo ao meu propósito — replicou a Colher, sua voz ecoando nos detalhes intricados de seu cabo prateado.

O Pote de Cerâmica, versado na sabedoria das estações, interveio com sua voz grave e ressonante:

— A paz que você busca, Colher, não está apenas nas tarefas completadas. Está em saber que cada um de nós tem sua hora e lugar. Nossa casa, embora simples, é um universo de harmonia. Vejam o Jardim que floresce sem pressa lá fora e como a sua beleza se revela dia após dia.

No canto, uma Lâmpada titubeava antes de se pronunciar:

— O Jardim tem razão. Eu testemunho as sombras quando caem e garanto a luz para que se dissolvam. Paz não significa ausência de escuridão, mas a paciência de esperar pelo próximo brilho.

De repente, a porta rangia suavemente e a conversa cessava à medida que entrava a senhora que morava ali. Ela desconhecia as conversas dos objetos, mas sentia que alguma magia velava por sua casa. Ao acariciar a Colher, sentia a urgência da vida; ao se encostar na Cadeira, lembrava-se de descansar. Acompanhada pelo tique-taque do Relógio, quantificava o tempo, saboreando tanto os segundos de ação quanto os de contemplação.

E assim, naquele rincão onde a simplicidade se fazia santuário e cada objeto sustentava um diálogo interno, a paz no mundo parecia nascer da vida de uma casa humilde. Uma paz tecida por mãos invisíveis, onde cada entidade exercia sua função com paciência, compreendendo que o verdadeiro equilíbrio não repousa em conquistas ou segundos medidos, mas no amor impregnado em cada gesto, em cada rotina que ali se desenrolava.

Enquanto a luz da Lâmpada aquecia o ambiente e a noite se aproximava, a casa se recolhia em si mesma, preparando-se para acolher um novo dia. Um novo ciclo de diálogos silenciosos entre objetos que, mesmo imóveis, moviam o mundo ao seu redor com uma força sutil, ensinando àqueles com coração para ouvir sobre uma paz verdadeiramente possível.

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