Ao amanhecer, o campo de batalha repousava sob uma bruma que escondia crateras e estilhaços. No meio dos sulcos, a Comunidade caminhava como uma fileira de mãos dadas: vizinhos, parentes, amigos, todos reunidos para recolher os que haviam caído e amparar os que ainda tremiam. Entre panos, panelas e orações murmuradas, um terço passava de palma em palma, e uma cruz de madeira foi fincada onde o vento parecia mais frio. A paisagem era áspera, mas nela se escreviam gestos de cuidado.
À frente vinham três crianças. Pedro, curioso, colecionava porquês como quem recolhe pedras brilhantes, tentando entender as consequências dos conflitos. Maria, sensível, trazia no olhar uma maturidade que não cabia na sua pouca idade, e percebia com doçura o peso e o valor da empatia. Lucas, sonhador, perseguia com os olhos uma andorinha que insistia em cruzar a fumaça, como se a esperança tivesse asas. A inocência dos três contrastava com o ferro e a poeira, e por isso mesmo iluminava o caminho.
Ao longe, os estrondos ainda repetiam ecos contra os morros, lembrando que feridas não se fecham num sopro. A Comunidade fazia o que sabia: aquecia caldos, erguia tendas remendadas, repartia mantas e rezava em coro, cada voz sustentando a outra. Um sacerdote traçava o sinal da cruz sobre os que choravam, e as avós entoavam canções antigas, como quem cobre o coração com um cobertor de memórias.
Depois de testemunharem a luta de perto e sentirem a terra tremer, as crianças se abrigaram atrás de um muro quebrado. Pedro, com os olhos arregalados, perguntou o que acontece quando a batalha resolve atravessar a porta de casa. Maria respirou fundo e, com a delicadeza de quem cuida de um vaso rachado, disse que o que nos protege é o que não se vê: amor, fidelidade, perdão. Lucas, olhando o céu que clareava, afirmou que a esperança sabe driblar trincheiras.
Ali nasceu o clímax. Eles deram as mãos, formando um pequeno círculo de coragem. Prometeram ser ponte quando a vida erguesse abismos. Se um caísse, os outros dois o levantariam. Se faltasse pão, partiriam o que restasse. Se o medo vier, rezaremos juntos, disse Maria, e o terço será nossa corda que não se parte. Nosso estandarte será o amor, completou Lucas, e Pedro assentiu, entendendo que algumas respostas só nascem quando os corações se unem.
Voltaram, então, ao vaivém da Comunidade. Sob a batuta simples da solidariedade, pais e mães acalentavam crianças, catequistas ensinavam a respirar entre uma lágrima e outra, e mãos anônimas consertavam o que dava para consertar. Pedro carregou água; Maria cobriu ombros com mantas; Lucas contou histórias de heróis que vencem sem ferir. Aprenderam que resiliência é paciência com fé em movimento, e que cada gesto humilde é um tijolo na reconstrução.
Enquanto o sol subia, Maria recordou a Sagrada Família: também eles conheceram fugas, angústias e noites longas. José, silêncio fiel; Maria, coragem que embala; Jesus, luz que aquece. Disse que nossas casas podem ser pequenas Nazarés, lugares onde se aprende a confiar. Deus caminha conosco nas trincheiras do cotidiano, e por isso a união resiste ao barulho das tempestades.
Quando os tambores cessaram, restou um silêncio que pedia promessa. Os três, sentados ao lado da cruz de madeira, contemplaram o horizonte. Lucas falou do amanhã que chega devagar, mas chega. Pedro prometeu fazer menos perguntas e oferecer mais ajuda. Maria concluiu que família é abrigo construído todos os dias, com palavras que curam e braços que não desistem. Unidos, atravessamos a noite.
Moral: Em tempos de dificuldade, permanecer ao lado de quem amamos, partilhar o peso, perdoar e rezar transforma qualquer campo de batalha em caminho de volta à paz. A verdadeira força brota do amor que nos une e da solidariedade da Comunidade.
Senhor, fazei de nós instrumentos de vossa paz. Onde houver ódio, que levemos amor; onde houver ofensa, que levemos perdão; onde houver trevas, que levemos luz. Amém.



