Havia uma pequena vila rural, guardada por montanhas antigas e rios prateados. Lá vivia o Velho Estevão, um ancião cuja palavra serenava corações. Numa casa simples moravam Tomás, Marta e seus três filhos — Lina, Bento e Miguel —, gente de fé e mãos calejadas, cuja mesa sempre tinha um lugar a mais.
Certo dia, uma geada fora de hora destruiu as hortas, e o canal de irrigação amanheceu seco. Espalhou-se o boato de que alguém deixara a comporta aberta — e logo culparam Bento, que andara pelo rio. Tomás o acusou; Marta o defendeu. Lina e Miguel tomaram partidos. A harmonia da casa e da vila se partiu como espelho na correnteza.
O Velho Estevão observava em silêncio, enquanto o rumor crescia. Portas se fecharam, vizinhos se dividiram, e o riso pareceu mudar de casa. Nessa confusão, chegou um viajante de capa empoeirada, chamando-se apenas Peregrino. Pediu pão e água ao ancião, que o levou até a família. Vendo a divisão, o forasteiro pediu três tábuas, pregos e uma corda, dizendo:
“Quando a água cresce, ou se erguem muros… ou se levantam pontes.”
Com paciência, construiu uma pequena ponte sobre o regato, ensinando às crianças:
“O prego é pequeno, mas segura o que a madeira sozinha não sustenta — assim também é a misericórdia.”
Gravou na tábua: “Setenta vezes sete.”
E acrescentou:
“A água das ofensas corre, mas a ponte do perdão fica.”
O Velho Estevão completou:
“Uma casa não se ergue só com razão, mas com compreensão. Onde o orgulho fecha portas, a oração abre janelas.”
Bento, que ouvira escondido, se aproximou. O Peregrino mostrou então a comporta antiga, corroída pelo tempo — ninguém a deixara aberta. O erro era do ferro gasto.
Tomás abraçou o filho e pediu perdão; Bento chorou; Marta, Lina e Miguel também se reconciliaram. Os vizinhos, envergonhados, vieram ajudar. E sobre a ponte recém-feita, notaram outra inscrição que ninguém vira o Peregrino entalhar: “Paz a esta casa.”
Rezaram juntos, e o forasteiro partiu ao luar, deixando atrás o brilho do rio e o rastro da esperança.
Desde então, a vila aprendeu o sinal da ponte: antes do pôr do sol, pediam desculpas; antes da colheita, agradeciam juntos; e se a água subia, reforçavam não os muros — mas os laços.
Quando o rancor cava abismos, o perdão ergue passagens;
e onde dois ou três se unem para reatar, ali Deus habita — e faz do lar um altar de paz.



