A Lamparina no Claustro
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A Lamparina no Claustro

Na quietude de um monastério medieval, onde as pedras guardavam histórias como livros silenciosos, o jovem Irmão Lucas percorria o claustro com passos curiosos e coração disposto. O Abade Gregório, mentor sereno, observava-o com ternura, como quem vigia a primeira chama de uma lamparina. Irmã Helena, a enfermeira do mosteiro, passava com unguentos e sorrisos pacientes, servindo a cada irmão com gesto exato. Ali, entre o canto das horas e o ranger dos bancos, o valor da amizade parecia perfume leve, muitas vezes notado só quando falta.

Certa tarde, Lucas perguntou ao Abade se a vida monástica não seria um deserto de afetos, feito apenas de silêncio e oração. Gregório respondeu com uma parábola: Uma lamparina acesa no eremitério ilumina um rosto; a mesma lamparina, carregada ao refeitório, ilumina muitos. A chama é a mesma, mas o seu alcance muda quando encontra outras chamas. O Abade sorriu e completou: A amizade é o lugar onde a luz aprende a multiplicar o seu alcance. E Lucas meditou, sentindo no peito uma alegria tímida, como luz recém-acesa.

Não muito depois, uma doença inesperada atravessou os portões como vento gelado. Uma febre estranha vergou os mais fortes, e a tosse parecia tambor anunciar a noite. Irmã Helena organizou compressas, chás e leitos; seus passos eram firmes, embora os olhos denunciassem o cansaço. Irmão Lucas sentiu o medo mordiscar sua coragem: e se ele também caísse? E se não fosse suficiente? Alguns irmãos se recolheram, outros hesitaram. O mosteiro, que ontem parecia fortaleza, hoje soava vulnerável, pedindo a todos uma resposta.

Então Lucas recordou as palavras do Abade Gregório e, vencendo o tremor das mãos, apresentou-se na enfermaria. Passou a noite moendo ervas, aquecendo água, entoando salmos com voz baixa para que a esperança não dormisse. A lamparina do refeitório foi trazida para o corredor, e outras a seguiram: cada irmão ofereceu uma pequena chama — um caldo, um cobertor, um cântico, uma oração. O Abade, ainda que combalido, orientava com gestos calmos, e Irmã Helena sorria ao ver que a caridade, somada, fazia a febre perder o fôlego. A solidariedade, como brasa bem protegida, ganhou corpo e calor.

Na aurora do quarto dia, o sino cantou mais alto. A febre cedeu como neve que recua ao sol, e o claustro respirou fundo. O Abade chamou Irmão Lucas ao jardim e disse: Vês, filho, como a chama cresce quando encontra outra? Lucas compreendeu que amizade não se mede em palavras doces, mas em presenças que sustentam.

Lição: a amizade verdadeira é luz compartilhada; na noite das dificuldades, ela deixa de ser consolo opcional para tornar-se pão, remédio e caminho. Quem tem amigos no Senhor, jamais caminha no escuro.

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