Certa vez, num reino distante, erguia-se um imponente castelo de pedra, com jardins que cheiravam a jasmim e rosas. No interior, vivia a jovem princesa Althea, conhecida por sua beleza e bondade. A riqueza e o luxo nunca tinham desviado seu coração da compaixão pelos mais necessitados.
O rei, seu pai, era um homem justo, porém seu irmão, o príncipe Edric, era arrogante e desprezava tudo que não fosse de ouro ou pedras preciosas. Para Edric, a simplicidade era sinônimo de fraqueza.
Certo dia, um velho mendigo chamado Orrin chegou ao grande portão do castelo. A princesa Althea observou da janela e viu Orrin pedir comida aos guardas, que o expulsaram sem contemplação.
— Por que sois tão cruéis com um homem velho e faminto? — repreendeu Althea, aproximando-se dos guardas com indignação.
— Majestade, não é nosso costume alimentar todos que batem a nosso portão. — justificou o chefe da guarda.
A princesa, sem hesitar, desceu as escadarias de mármores e foi ao encontro de Orrin.
— Não se preocupe com eles. Por favor, venha comigo. — ofereceu Althea, estendendo gentilmente sua mão.
Orrin sorriu, grato, e seguiu a princesa até a cozinha do castelo, onde ela mesma lhe serviu um prato farto.
— Agradeço vosso gesto nobre, princesa. — disse Orrin, após saborear cada colherada. — Poucos no mundo possuem riquezas e ainda assim prezam pela caridade.
Althea sentou-se ao seu lado e questionou:
— Contai-me mais sobre a simplicidade, bom homem.
— A simplicidade, minha jovem, é a chave que abre o coração e a mente para a verdadeira felicidade. Não é o quanto temos, mas o quanto somos capazes de valorizar e compartilhar.
Edric, que passava pelo corredor, ouviu a conversa e zombou:
— Tolice! A verdadeira felicidade está no poder e na riqueza, e simplesmente não se compartilha com mendigos.
Orrin sorriu novamente, olhou para Althea e disse:
— Majestade, permita-me contar uma história que talvez mude a perspectiva de vosso irmão.
— Prossegui. — incentivou Althea.
Orrin começou a falar sobre um rei poderoso que possuía tudo que podia desejar, mas que se sentia vazio por dentro. Até que um dia, o rei disfarçou-se de mendigo e visitou o próprio reino, vendo a vida por outra perspectiva. Compartilhou da simplicidade de seus súditos e descobriu que a felicidade verdadeira estava no amor e na generosidade, não na opulência de seu trono.
Edric, que escutava atentamente, riu e disse:
— E esperais que eu acredite que uma história possa ensinar-me sobre a vida real?
Orrin aproximou-se de Edric e, com um olhar penetrante, falou:
— Príncipe, as histórias nos ensinam sobre a vida, sim. Eu era um homem de grande riqueza, até que um incêndio tomou minha casa e todos os meus bens. Restou-me apenas a simplicidade e, acredite, nunca fui tão feliz.
Althea olhou admirada para Orrin e então para Edric, que, pela primeira vez, pareceu refletir sobre suas palavras.
— Talvez haja sabedoria nesse seu discurso, mendigo. — disse Edric, ainda cético, mas visivelmente tocado.
No dia seguinte, a notícia de que Edric havia compartilhado pão com os pobres na vila espalhou-se pelo reino. A caridade e a simplicidade, plantadas por Althea e Orrin, haviam florescido no mais improvável dos corações.
A partir de então, a princesa Althea foi lembrada não apenas como uma heroína de sangue real, mas como a portadora da chave da simplicidade, abrindo as portas da compaixão e da humanidade em seu reino.