Prepare-se meu caro leitor: o leilão vai começar e o que vamos leiloar hoje é uma peça rara, esculpida em amor pelo próximo, cravejada de solidariedade e com arremates em fazer o bem! Nossa coluna “Exemplos que Arrastam” foi lá para o interiorzão de Goiás, conhecer um vicentino de 100 anos que dedicou quase da metade da vida à SSVP. Apresentamos a você, o seu Antonio Batista Gomes, que completou um século em fevereiro, vicentino da Conferência Nossa Senhora de Fátima, da cidade de Itapuranga/GO, e que criou um mega leilão de animais para ajudar o próximo.
Só pelos quase cinquenta anos dedicados à SSVP, o seu Antonio merecia ter sua história contada nas páginas do nosso Boletim. Mas ele, além das reuniões semanais e visitas aos assistidos, resolveu ajudar o Lar São Vicente de Paulo, em Itapuranga, de uma maneira bem inusitada. Mas antes de chegarmos a esta parte da história, temos que retroceder um pouco, na juventude de seu Antonio, quando ele se mudou de Patos de Minas/MG, para Itapuranga em busca de melhores condições de vida.
Em Goiás, ele trabalhou na roça, criou gado, tirou leite, conseguiu comprar seu terreno, juntou dinheiro e de uma maneira muito simples e suada conseguiu prosperar e criar sua família. Foi lá também que conheceu a esposa Elmira Maria, sua grande paixão, com quem teve 11 filhos, dos quais dois morreram. Hoje são cinco filhos homens e quatro mulheres. E quem nos auxiliou nesta entrevista foi um deles, João Batista, o Neguinho, de 62 anos. “Meu pai era apaixonado na minha mãe, foram 58 anos de casamento e nunca vi eles brigarem. Ele também nunca ergueu a mão para a gente. Minha mãe pediu e ele nunca fez. Ele é um homem sistemático, mas muito bom”, conta Neguinho.
Os anos passaram e seu Antonio estava estabelecido, quando a SSVP entrou em sua vida. Isso foi quando o seu compadre Aderito Francisco de Oliveira fez uma viagem à Bahia, sua terra natal, conheceu a SSVP e viu o trabalho de uma Conferência com os Pobres. Ao chegar a Itapuranga, encantado, contou para os amigos. E assim se formou um grupo de 20 homens, entre eles seu Antonio, que fundou a primeira Conferência da cidade, a Nossa Senhora de Fátima. A Conferência funcionava dentro “dos conformes”, quando seu Antonio teve a ideia de arrecadar agasalhos para entregar aos Pobres e, em 1974, nasceu a 1ª Campanha do Agasalho da SSVP.
E a Campanha do Agasalho de Itapuranga é bem diferente das que costumamos ver por aí. Ela é na verdade, ela não arrecada roupas, mas faz um leilão de animais, que tem a renda revertida para a compra dos agasalhos e cobertores. “Meu pai sempre doou um bezerro, o mais bonito, o mais forte para o leilão. Com o dinheiro, a gente comprava um mundo de agasalho e cobertor e distribuía com todos os vicentinos pela cidade. Com o passar do tempo, o leilão passou a não ser somente para os pobres, mas também para os idosos do Lar São Vicente de Paulo, que começou a precisar de mais doações, inclusive em dinheiro. Quando paramos de criar o gado, há seis anos, ele passou a mandar comprar o bezerro para doar para o leilão e nunca deixou de doar em nenhum ano. Essa é uma tradição em nossa cidade e na nossa família”, conta Neguinho.
A edição deste ano, realizada em abril, foi a 48ª e teve um gostinho especial: seu Antonio foi homenageado pelos serviços e por sua doação à caridade e à SSVP. “Foi um momento muito bonito. O papai ficou um pouco triste depois do leilão e sabe o que animou ele? Eu falei que o ano que vem vou comprar a bezerra mais linda para doar e para dar muito dinheiro pro Lar. Foi eu falar isso e ele sarou. Ele ama o Lar e a SSVP”, lembra o filho.
Neguinho conta que dedica sua vida a cuidar do pai e que hoje cabe a ele fazer a compra do bezerro para o leilão, função esta que ele pretende manter sempre. “Meu pai me ensinou a fazer isso e eu sigo meu pai. Tenho muito orgulho disso”, afirma.
Com dificuldades para falar e algumas limitações na saúde, seu Antonio não pode mais ir às reuniões semanais da Conferência, mas não se esquece do amor pelos vicentinos. Perguntado sobre o motivo de tanto amor pela SSVP e de tanta vontade de ajudar, ele respondeu com uma voz baixinha, quase num sussurro que Neguinho teve que traduzir: “Eu fui pobre demais também. Eu sei que precisam. Eu fico feliz em ajudar. Aqui tinha muita gente pobre e com os vicentinos ajudando me sentia feliz’, conclui seu Antonio.





