O Caminho de Pedra
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O Caminho de Pedra

Numa vila aninhada ao pé de uma grande montanha, vivia a Família Silva. Carlos, o pai, era diligente e gostava de repetir que o esforço clareia o olhar. Ana, chamada por muitos de ‘médium’ pela sua sensibilidade e escuta mansa, tinha o dom de acalmar corações e ensinar empatia. Ricardo, aos 15, achava o mundo comum demais e raramente agradecia. Lúcia, com 12, guardava nos bolsos pequenos ‘obrigadas’ como quem carrega pedrinhas brilhantes. A montanha, velha sábia desta fábula, observava tudo em silêncio, como quem ensina sem alarde.

Num amanhecer de brisa, decidiram subir a trilha. Carlos falou que cada pedra é uma lição e cada passo, um voto de confiança. No caminho, encontraram João, o jovem montanhês de 17 anos, que conhecia a serra como quem conhece o próprio coração. Reverente à natureza, ele apontou o canto de um sabiá, o cheiro de pinho e a água que corria fina, e disse que os pequenos sinais são convites ao agradecimento. Ricardo encolheu os ombros; Lúcia sorriu e guardou a frase no bolso.

O céu mudou de humor, e a montanha cobriu-se de cinza. A tempestade chegou com pressa, puxando os cabelos do vento. Relâmpagos estalaram, e a trilha ficou escorregadia. João, atento, indicou um desvio seguro, e a família precisou se unir: Carlos ia à frente, firme como um cajado; Ana pedia calma, conduzindo uma breve oração de gratidão por cada passo dado e por quem caminhava ao lado; Lúcia dividiu a garrafa d’água; Ricardo, impaciente, tropeçou, mas, ao sentir a mão de Lúcia sustentando a sua, percebeu a força das pequenas ajudas que sempre ignorara.

Na parte mais estreita, João improvisou um cordel entre dois troncos. ‘Montanha não se vence; com ela se conversa’, disse, e ensinou a olhar para o chão como quem cumprimenta um amigo: com respeito. A chuva batia, mas Ana mantinha a voz macia: ‘Obrigada, Senhor, pela rocha que nos sustenta, pelo abrigo que virá.’ Carlos encorajou Ricardo a cruzar primeiro; Lúcia foi logo atrás, leve como folha. Quando alcançaram um abrigo de pedra, compartilharam pão e um pouco de fruta. Ricardo, molhado e ofegante, arriscou um sussurro: ‘Obrigado, Lúcia… e obrigado, Deus, por este teto de pedra.’ A montanha, satisfeita, pareceu respirar mais suave.

Quando a tempestade cedeu, um fio de sol abriu trilha no céu. Seguindo João, chegaram a um pequeno cume. O vale sorria lá embaixo, e as gotinhas penduradas nos galhos eram contas de um rosário de luz. Ficaram em silêncio: o silêncio que entende sem explicar. Carlos apertou as mãos dos filhos; Ana conduziu um breve agradecimento por tudo o que os guardara. João, com olhos brilhando como nascente, apontou: ‘Olhem o que quase passamos sem notar: o cheiro da terra molhada, o calor do casaco, o riso que voltou.’ Ricardo assentiu, sentindo o peso bom das coisas simples. Lúcia, feliz, abriu o bolso e espalhou seus ‘obrigadas’ pelo vento, como quem semeia.

Ao voltarem, combinaram um pacto: aprender com a montanha a subir devagar, nomear as dádivas pequenas e agradecer em casa antes de qualquer refeição, conversa ou partida. Carlos prometeu repetir menos e mostrar mais com gestos. Ana se ofereceu para lembrar, com ternura, o que a pressa apaga. Ricardo se comprometeu a enxergar o bem que o sustenta, mesmo quando o dia é íngreme. Lúcia, guardiã das pequenas luzes, disse que faria uma lista de ‘mil graças’ para ler nas tardes chuvosas. João sorriu, já descendo, e deixou no ar o conselho que a montanha lhe dera: quem percebe a beleza do detalhe nunca se perde no nevoeiro.

Moral: A gratidão nas pequenas coisas fortalece os passos nos grandes desafios e faz da família um abrigo mais alto do que qualquer cume.

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