O Eco do Castelo Interior
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O Eco do Castelo Interior

As torres erguiam-se como preces de pedra, tocando o céu; por dentro, o castelo respirava silêncio. Seus corredores longos eram sombras que se alongavam sobre as dúvidas, e cada sala parecia guardar o peso de algo não dito. Foi ali que Lucas, Maria, João e Ana buscaram abrigo de uma tempestade que crescia no horizonte.

Lucas caminhava devagar, olhando as paredes como quem escuta conselhos severos. Suas mãos tremiam com a lembrança das expectativas dos pais. Tenho medo de decepcionar, confessou aos próprios passos, sem saber que alguém o ouvia.

Maria, de olhar doce e tenso, contava mentalmente provas e prazos. O corredor, escuro, era um labirinto de perguntas sobre o amanhã. E se eu não for suficiente? Ela pensou na família, nos estudos, e no quanto um abraço às vezes vale mais que um boletim.

João tentava desenhar sorrisos no ar. Brincou com as sombras, fez caretas para um espelho antigo, mas dentro dele havia uma chuva ainda mais barulhenta. Eu rio para não chorar, admitiu, quando os trovões pareceram responder com franqueza.

Ana, a que sempre juntava os cacos, olhava o grupo e sentia o peso invisível de guiá-los. No salão principal, encontraram um oratório esquecido. Sobre a mesa, um Livro Antigo, com páginas amareladas, e ao lado, uma Espada Quebrada. A lâmina partida brilhava fraca, como quem pede cuidado.

Ao abrir o tomo, viram gravuras dos santos e histórias de coragem em noites semelhantes. Um nome os puxou para dentro do texto: Teresa, que falava de um interior feito de moradas. No centro do castelo mora o Rei, leu Ana, com voz que misturava respeito e desejo. Eles se calaram; era como se as paredes finalmente oferecessem lugar ao coração.

A tempestade alcançou o vitral, e o vento cantou pelos corredores. Ali, fizeram um círculo. Lucas respirou fundo: Tenho medo de não ser quem esperam que eu seja. Maria enxugou os olhos: Carrego o futuro como se fosse uma rocha. João baixou a cabeça: Brinco para esconder que às vezes não sei ficar de pé. Ana, enfim, deixou que a voz tremesse: Temo falhar com vocês.

Colocaram a Espada Quebrada sobre o Livro Antigo, como quem entrega a luta nas mãos de uma sabedoria maior. Rezaram com palavras simples, e um trecho veio à memória como uma mão sobre o ombro:

“Lançai sobre Ele todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós.” (1Pe 5,7)

Do lado de fora, a chuva persistia; por dentro, algo se aquietou. Decidiram buscar ajuda e permanecer próximos: encontros semanais, partilhas honestas, oração. A espada, não a consertariam completamente; deixariam a fenda como lembrança de que a força não é dureza, mas confiança. Invocaram a proteção de Nossa Senhora e o auxílio de São Miguel, que ensina a lutar primeiro ajoelhados.

Quando saíram, o castelo continuava grande, porém menos solitário. As paredes já não eram pressões, mas testemunhas. O Livro Antigo ganhou lugar nos braços de Ana; a Espada Quebrada, no centro do grupo, tornou-se sinal de aliança. E, se um dia o medo voltar a fechar corredores, sabem que a chave está em abrir o coração uns aos outros: a verdadeira coragem anda de mãos dadas, com passos pequenos, sob o olhar de Deus.

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