Quando a Usina Aprendeu a Brilhar
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Quando a Usina Aprendeu a Brilhar

As turbinas cantavam como um coral de aço, e a usina parecia uma catedral erguida por engrenagens. Lucas, olhos curiosos, caminhava ao lado do Senhor Miguel, idoso de passos firmes, que trazia nas mãos uma lâmpada antiga. “Ela já iluminou noites inteiras”, disse Miguel, “e lembrava a todos que Deus acende luz por dentro.” O menino tocou o vidro, sentindo a história no frio da peça: a esperança que resiste quando a corrente falha, o trabalho que se torna oração quando é ofertado com amor.

“Mas para que serve a fé numa usina?”, perguntou Lucas, rodeado por cabos, válvulas e medidores. Miguel sorriu e apontou para o reservatório: “A água, sozinha, é silêncio. Quando atravessa a turbina, vira força. Assim é a fé: quando passa pelo coração e alcança o próximo, vira coragem e serviço.” Ele traçou discretamente o sinal da cruz e sussurrou: Quem confia no Senhor renova as forças. O menino sentiu que aquela lâmpada não era só objeto; era uma lembrança de que o verdadeiro brilho começa no interior.

Foi então que um estalo percorreu a sala de controle. Um curto, um sopro de fumaça, sirenes. A corrente caiu como um pano pesado e, no mesmo instante, a lâmpada antiga se apagou. O escuro engoliu corredores e máquinas, e as turbinas pareciam adormecer como gigantes exaustos. “E agora?”, sussurrou Lucas, com o coração pequeno. Miguel apertou sua mão: “A luz volta quando mãos e corações trabalham juntos.” No bolso, ele encontrou um fósforo e um pequeno frasco de azeite guardado da antiga capela dos operários—memória de dias em que a oração velava o turno da noite.

Guiados pelo tato, eles ajudaram dois colegas a saírem de um setor alagado, partilharam água e, no silêncio, rezaram um Pai-Nosso. Na sala da velha caldeira, Miguel encheu o pavio com o azeite, enquanto Lucas, seguindo instruções, girou a manivela do dínamo auxiliar para dar vida ao circuito de emergência. Era como se a usina respirasse outra vez. O fósforo brilhou como aurora em miniatura; o pavio aceitou a chama e a lâmpada reacendeu, derramando uma luz morna que se espalhou pelos painéis. A claridade parecia dizer: “Vocês não estão sozinhos.”

Com a luz, vieram também rumo e paz. Lucas descobriu um novo propósito: aprender a servir e estudar para que a energia chegue a quem mais precisa, levando esperança junto do kilowatt. O Senhor Miguel, com os olhos úmidos, entendeu que seus anos de trabalho eram um contínuo sim a Deus, dito entre parafusos e turnos. A usina, agora iluminada, lembrava uma assembleia viva. E a lição ficou gravada no coração do menino e do velho: a não impede a noite, mas ensina a atravessá-la, lado a lado, até que a manhã chegue.

Lição moral: Em tempos conturbados, a fé é a chama que se alimenta de oração, trabalho e caridade; quando partilhada, ela ilumina mais que qualquer usina.

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