O tema santidade é muito atual, embora cada batizado pouco pense no chamado feito pelo próprio Deus para cada um de nós a esse respeito. A propósito, os últimos papas ensinam que a Igreja existe para levar os seus filhos e filhas a se santificarem aonde estiverem.
A vocação à santidade vale para a vida toda. Cada um de nós pode e deve ser santo. Contudo, é preciso que este assunto seja melhor tratado em todos os movimentos eclesiais. É o que tenho feito através de artigos que escrevo para divulgar testemunhos de santidade encontrados na Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP).
Perto estou de completar 62 anos e conheço a SSVP desde o começo dos anos 1970, quando, ainda menino, acompanhava meu avô materno, vicentino da velha guarda, nas suas visitas às famílias empobrecidas. Pessoa humilde, hoje sei que ele discretamente se santificou nessas atividades por ter convivido com gente necessitada e ouvido dramas. Isso mais tarde me moveu a também fazer parte de uma Conferência vicentina na idade adulta.
Ainda na infância, nas férias escolares, eu passava temporadas na casa de minha avó materna. Incentivado por ela, frequentei a catequese, recebi a primeira eucaristia e aprendi a pedir a intercessão de alguns santos que naquela época nem haviam sido canonizados, dentre os quais Madre Paulina, Frei Galvão e o Padre Anchieta. Foi com ela que ouvi falar de santidade, mesmo sem compreender a grandeza dessa que é a principal vocação cristã.
Na juventude, fui seminarista diocesano e no tempo em que me preparava para o sacerdócio conheci a história de grandes santos, a maioria elevados aos altares pelo Papa São João Paulo II (1920-2005). Mesmo tendo cursado teologia, decidi não prosseguir na busca do sacerdócio, mas permaneci interessado nos assuntos eclesiais.
Hoje, profissionalmente sou jornalista e há mais de 30 anos me dedico à pesquisa histórica, ou seja, gosto de reavivar pessoas e fatos relevantes e isso já resultou na publicação de mais de cinquenta livros, dentre biografias de personalidades e de relatos sobre as origens de minha região, no sudoeste paulista.
Santidade na literatura vicentina
Dentre as obras literárias que já editei, oito delas são dedicadas à espiritualidade vicentina. Primeiramente, vieram os três volumes da série “Reflexos” (coletâneas de leituras espirituais para unidades da SSVP, editadas entre 2002 e 2006). Depois lancei “Um pensamento de Ozanam para cada dia do ano” em 2008.
Especificamente sobre o tema santidade na SSVP o primeiro livro foi “Chamados à perfeição da caridade”, que lancei em 2009, em Salamanca, na Espanha, quando fui convidado pelo Conselho Geral Internacional a tomar parte da Fundação Bailly & Lallier, voltada aos estudos das origens da Sociedade de São Vicente de Paulo.
Em 2019, apoiado pelo vicentino e escritor Renato Lima, 16º Presidente geral da SSVP, publiquei “Santidade nas Conferências Vicentinas”, obra lançada durante reunião internacional do CGI realizada no Porto, em Portugal. Quatro anos depois, com as devidas atualizações, a segunda edição, em versão e-book, foi lançada em Roma, em maio de 2023.
Um Santoral para a SSVP
O mais novo livro é “Santoral da SSVP”, cuja edição em versão digital, está sendo lançada agora em novembro de 2025, em cujas páginas os leitores conhecerão as diferentes fases de um processo de canonização, pois para que alguém possa ter a santidade de vida reconhecida pela Igreja, primeiro é chamado de servo de Deus, depois é reconhecido como venerável, em seguida declarado beato e, por último, proclamado santo.
O mesmo volume traz o rol atualizado com imagens e dados dos 103 membros da SSVP que chegaram à perfeição da caridade, isto é, à santidade, servindo os Pobres nas atividades vicentinas. A rigor, hoje, são 13 santos, 54 bem-aventurados, 22 veneráveis e 14 servos de Deus.
Chamei o livro de “Santoral” por reunir o calendário dos dias dedicados à memória e veneração dos santos, no caso os ligados cordialmente à SSVP. Aliás, desde o princípio do cristianismo o culto e a veneração dos mártires, e de outros santos, deu origem a calendários próprios que estabeleciam as datas das suas festas e memórias.
Agradeço a Juan Manuel Gómez, nosso 17º Presidente do Conselho Geral Internacional, pelo integral apoio e pelo empenho para que a obra seja em breve traduzida para as principais línguas. E também pela mensagem de incentivo de Márcio José da Silva, Presidente do Conselho Nacional do Brasil.
Este trabalho, portanto, resulta das pesquisas permanentes que faço junto à Santa Sé, sobretudo no Dicastério para a Causa dos Santos, onde os processos de canonização se desenvolvem.
Importante salientar que os membros da SSVP passaram a ter a santidade reconhecida, em maior número, a partir do pontificado de São João Paulo II (1978-2005), o primeiro papa que integrou uma Conferência vicentina, na juventude quando era universitário em Cracóvia, na Polônia. Aliás, por isso ele é o primeiro que aparece no rol dos santos da SSVP, embora ele nem tenha sido o primeiro canonizado.
Nossos Santos e nossas Santas
O primeiro vicentino a ser elevado ao altar foi o educador italiano Contardo Ferrini (1859-1902), beatificado pelo Papa Pio XII em 1947. E o último a ser proclamado santo foi o estudante também italiano Pedro Jorge Frassati, um dos primeiros canonizados pelo Papa Leão XIV, em 7 de setembro de 2025, 78 anos depois da primeira beatificação.
O pontífice que mais elevou vicentinos aos altares foi João Paulo II, que fez seis canonizações e 27 beatificações, além de ter declarado seis vicentinos veneráveis. Importante é conhecer os exemplos de vida de tantos vicentinos, pois são impressionantes.
O segredo para ser santo é lutar contra o pecado de todos os dias. Não é algo fácil, mas também não é impossível se pedirmos a graça divina. Temos, é verdade, vários padres e freiras que pertenceram à SSVP e hoje são santos e beatos. Contudo, a grande maioria é de leigos, incluindo jovens, pais e mães de família, o que comprova que a santidade está acessível a quem responder que a deseja, não somente aos que consagram a vida ao divino serviço.
Temos mais de cem nessa lista e posso apontar para vários, mas o farei lembrando somente duas mulheres, duas vicentinas admiráveis e nossas contemporâneas: a santa médica italiana Gianna Beretta Molla (1922-1962), que foi secretária de uma Conferência e morreu para salvar a vida da própria filha, e a beata mártir brasileira Isabel Cristina Mrad Campos (1962-1982), jovem estudante dirigente da SSVP mineira, assassinada enquanto defendia a sua honra pessoal.
Termino recomendando a leitura destes livros por talvez servirem de instrumento para quem quer melhor ouvir esse chamado feito a você, a mim, a cada um de nós, pois não é privilégio de alguns poucos.
Afinal, como sabiamente nos ensinava João Paulo II, a vocação do cristão é a santidade, em todo momento da vida. Do começo ao fim. Na primavera da juventude, na plenitude do verão da idade madura, e depois também no outono e no inverno da velhice, e por último, na hora da morte.
* Gesiel Theodoro da Silva Júnior, cronista e pesquisador, residente em Avaré (SP), é autor de 57 livros de temas históricos, dentre os quais alguns ligados à SSVP.

Gesiel Júnior, cronista e pesquisador



