Na pequena aldeia à beira de um grande lago sereno, as casas respiravam ao ritmo das águas calmas, e o sino da capelinha marcava as horas como quem reza por todos. Ali vivia um jovem pescador, cuja alma buscava esperança e confiança em Deus, e um velho sábio, cuja voz trazia o peso doce da experiência em cada conselho. O lago, espelho manso, refletia céu e segredos, lembrando que a vida pode ser silêncio e convite, mas também profundidade que nos chama a mergulhar com fé quando não vemos o fundo.
O jovem, ávido por sustentar a família e honrar seu ofício, lançava as redes com coragem; contudo, quando voltava com o cesto quase vazio, a alma ficava presa em dúvidas que lhe roubavam o sono. Nessas horas, o velho sábio se aproximava, sentava-se ao lado dele na margem e ensinava sem pressa, deixando que o vento e o tempo completassem a catequese. Dizia que a fé não é fuga do vento, e sim firmeza de rumo enquanto ele muda, e que a esperança é a canção que impede o medo de comandar o leme. O lago, silencioso, parecia escutar e responder com pequenas ondulações.
Certa noite, nuvens pesadas cobriram as estrelas, e um sopro frio virou a pele do lago do avesso como se o mundo se lembrasse do seu próprio abismo. Chamado por uma urgência no coração, o jovem entrou no barco antes que a chuva caísse em lâminas e o trovão rasgasse a calma antiga. Logo, as águas, antes dóceis, ergueram-se como colinas escuras, e o remo pareceu pequeno diante do rugido que vinha de todos os lados. À deriva, ele sentiu o medo subir aos olhos e a dúvida agarrar seu peito, como se a solidão quisesse ter a última palavra sobre sua história.
Quando a tempestade pareceu engolir o horizonte e a noite se tornou um poço sem bordas, ele recordou o conselho do ancião e, com voz trêmula, começou a rezar na cadência do próprio fôlego. Não pediu que o vento acabasse, mas que seu coração permanecesse firme em Deus, como âncora no fundo invisível, mesmo que a superfície gritasse. Repetiu, em silêncio, que não estava sozinho, pois Cristo caminha sobre as águas da nossa fraqueza e acende coragens que não sabíamos possuir. À medida que a oração se alinhava ao compasso do remo, uma paz inesperada visitou o barco e iluminou por dentro o que a noite obscurecia por fora.
Aos poucos, entre relâmpagos, o jovem percebeu uma claridade humilde na margem: era a lanterna do velho sábio, mantida alta como um farol de confiança para todos os corações vacilantes. Seguindo aquele pequeno lume, ele ajustou o leme com serenidade nova, ouviu a bússola do coração apontar para a aldeia e deixou que a fé sustentasse seus braços cansados. A tempestade ainda falava, mas já não mandava. Quando tocou a areia fria, estava encharcado, exausto e, ainda assim, inteiro, pois o lago silenciara como quem reza depois do grito e devolve o peregrino à sua casa.
Na manhã seguinte, o velho disse com ternura que a fé não é magia para calar tempestades, mas a certeza de uma Presença que não nos abandona, mesmo quando tudo parece desabar. O lago, alegoria do viver, guarda calmarias e tormentas, e o discípulo aprende a atravessá-las sem perder o rumo, deixando que Deus conduza o coração. O jovem pescador entendeu, então, que confiar em Deus não é negar o vento, e sim remar com Ele, firmando-se no que não se vê e que, no entanto, sustenta. Desde aquele dia, sua esperança tornou-se farol para outros barcos, e a aldeia aprendeu a escutar o lago como quem aprende a rezar.



