Neste 18 de outubro, Dia do Médico, a Sociedade de São Vicente de Paulo celebra todos os profissionais que escolheram dedicar suas vidas ao cuidado com o outro. Para isso, vamos te apresentar a história da mineira Gabriela Itagiba Aguiar Vieira, médica de Família e Comunidade, perita e professora da Universidade Federal de Alfenas, cuja trajetória é marcada pela compaixão e pela profunda espiritualidade vicentina.
Aos 47 anos de vida e com 1 ano de caminhada vicentina, Gabriela é proclamada na Conferência Santa Catarina, em Alfenas, e reconhece que sua história na SSVP é um verdadeiro chamado de Deus. “Meu marido Fernando é vicentino há 27 anos, e eu o acompanhava nos eventos da Sociedade. Por muito tempo, estive apenas ‘sentada’, contemplando tudo de fora. Foram inúmeros chamados e eu resisti até que, num atendimento, senti algo diferente”, relembra.
1/2
Esse atendimento transformador aconteceu no início deste ano, na Universidade Federal de Alfenas, em um espaço chamado Sala de Apoio ao Alinhamento Materno, criado para acolher gestantes em situação de vulnerabilidade.
“Ela havia chegado com seus filhos, gêmeos de apenas seis dias, desejando amamentar. Era uma mulher que cumpria pena em regime semiaberto, com o marido também preso. Uma situação completamente delicada. Naquele momento, senti um amor imenso e o desejo profundo de fazê-la sentir-se amada e digna do amor de Deus. Filhos são uma bênção e aqueles bebês, gêmeos, eram um verdadeiro milagre — sinal do amor divino por ela. Trouxeram um novo sentido para a sua vida e uma motivação para ser aquilo que Deus sonhou para ela. Durante aquele atendimento, senti um amor profundo e um desejo de cuidar da vida dela inteira, não apenas da sua saúde. Vi Jesus naquela mulher. Quis descobrir suas dores, suas faltas, suas necessidades. Percebi que Deus me convidava a servi-Lo integralmente por meio da SSVP. Foi uma experiência forte e transformadora. O Nosso Senhor me tomou pela mão e me trouxe para o caminho da santidade.”, lembra a médica vicentina.
Para Gabriela, a medicina sempre foi um serviço de amor — mas, desde que se tornou vicentina, esse amor se ampliou e se tornou mais integral. “Sempre reconheci a medicina como serviço de amor, mas após me tornar vicentina o atendimento é ainda mais completo, porque posso considerar também os aspectos sociais que antes não eram tão valorizados. Agora, entendo que o cuidado vai além do corpo: envolve a alma, o lar, a esperança e a dignidade.”
Como médica e vicentina, Gabriela reconhece que a fé e o serviço caminham lado a lado. “Sempre reconheci Deus em meus pacientes e, diante dos mais fragilizados, às vezes tenho vontade de me ajoelhar. Agora, como vicentina, quero me doar completamente pelos meus assistidos — cuidar de suas necessidades, sejam quais forem. Alguns carecem de saúde, outros de alimento, outros de casa, outros de esperança, outros de Deus.”
A espiritualidade vicentina, para ela, é combustível e direção. “As virtudes vicentinas contribuem profundamente para a minha profissão. E muitos santos da Família Vicentina que também foram médicos me inspiram e me acompanham nos momentos mais desafiadores.”
A vocação médica, quando vivida sob o olhar de São Vicente de Paulo, adquire um significado ainda mais profundo. O médico vicentino não trata apenas doenças, mas enxerga o Cristo Sofredor em cada paciente, acolhendo corpo e alma com ternura e dignidade. É o serviço humilde, compassivo e comprometido com a vida que traduz o verdadeiro espírito vicentino — aquele que busca não apenas aliviar a dor, mas restaurar a esperança e devolver a humanidade a quem mais precisa.
São Vicente ensinava que “os Pobres são nossos Senhores e Mestres”, e essa máxima se torna especialmente viva na prática médica: cada consulta é uma oportunidade de reverência, cada gesto de cuidado, uma forma de adoração. É nesse espaço sagrado do encontro entre médico e paciente que o carisma vicentino se revela em toda a sua plenitude.
Gabriela encontra inspiração em santos médicos da Família Vicentina, como São João Gabriel Perboyre, missionário mártir que levou alívio espiritual e físico aos doentes; São Francisco Régis Clet, que unia ciência e fé em sua missão junto aos mais pobres; o Beato Marcantonio Durando, conhecido pelo zelo no cuidado aos enfermos e pelo impulso às Filhas da Caridade para o serviço hospitalar; Santa Gianna Beretta Molla, médica e mãe que dedicou sua vida ao cuidado dos doentes e à família; e a jovem Isabel Cristina Mrad Campos, que desejava ser pediatra e cujo exemplo de entrega e fé inspira ainda hoje. Todos testemunham que a medicina pode ser um caminho de santificação, quando exercida com amor e caridade.
Hoje, ela vive com gratidão a união entre sua vocação médica e seu chamado ao serviço vicentino. “Sinto-me realizada por poder amar com predileção os prediletos do Nosso Deus. Os Pobres, os enfermos e os necessitados são meus senhores e mestres — donos da minha vida e quem me ensina a ser quem devo ser.”, finaliza.
Neste Dia do Médico, a SSVP rende sua homenagem a todos os profissionais que, como Gabriela, encontram em cada atendimento uma oportunidade de servir, amar e santificar-se — transformando a medicina em um verdadeiro ato de caridade.
E, como dizia São Vicente de Paulo, que inspira há mais de 150 anos o serviço da SSVP no Brasil, “não basta amar a Deus, é preciso que o nosso amor se manifeste nas obras.”
Que os médicos vicentinos continuem sendo expressão viva desse amor concreto — curando corpos, confortando almas e reacendendo a fé onde a dor insiste em habitar.





