Já diria o velho ditado: “Uma andorinha só não faz verão”. E foi essa frase, tão dita pela minha falecida avó, que veio à cabeça desta jornalista quando soube da história do personagem desta edição da coluna Exemplos que Arrastam. Conheça seu Luiz Gava, de 78 anos, morador de Barbacena/MG, que literalmente arrastou familiares, amigos e sua Conferência para arrecadar e levar semanalmente a dois asilos e às famílias assistidas frutas e verduras fresquinhas! A fala cheia de sotaque mineiro e calma de seu Luiz demonstravam toda a “estranheza” de contar o que acontece pelos lados de Barbacena, mais especificamente, na Comunidade do Galego, formada por aproximada 150 famílias, quase todas de parentes. Ele não entendia muito bem o porquê de ser entrevistado, mas tenho certeza de que você, leitor (a), vai entender ao final deste texto!
Seu Luiz é agricultor desde a infância. Perdeu sua mãe quando tinha apenas um ano, sendo criado pelo pai e pelas irmãs mais velhas, em uma vila simples, a Comunidade Galego, com muito trabalho junto à família.
Quando conheceu sua futura esposa, Maria Fatima, conheceu também a SSVP, pois o sogro Vitalino, era um vicentino devoto. Porém, o início de sua jornada de fé e caridade aconteceu em sua própria comunidade, na igreja, com o Pároco Padre Jorge Grima, com quem tinha uma grande amizade. Durante uma missa dominical, Padre Jorge anunciou: “Hoje vamos à comunidade do Galego para conversarmos sobre a fundação de uma Conferência e o senhor Luiz Gava será o presidente”. E assim foi! A Conferência Nossa Senhora de Fátima foi fundada em 1984, com 30 membros e seu Luiz de presidente.
Em 1993, seu Luiz conheceu Maria José Paulélio, zeladora do Lar das Velhinhas, que arrecadava frutas e legumes para o asilo feminino. “Ela me contou que eles tinham muitas dificuldades de conseguir os alimentos, que às vezes gastava dinheiro do combustível para fazer a arrecadação sem sucesso, pois nem sempre era dia de colheita. Então, me propus a ajudar. Minha família é toda do campo, mas todos produziam a mesma coisa, repolho, batata. Precisava diversificar. Como eu tinha conhecimento no Ceasa, fui lá, conversei com quatro amigos e se formou uma turma para ajudar. E toda semana, a gente levava as mercadorias para o lar. Meus dois filhos adolescentes e meus dois sobrinhos se envolveram também e íamos todos”, lembra.
Depois de três anos, o Lar Frederico Ozanam, também da cidade, começou a precisar também de ajuda e lá estava a turma de seu Luiz para auxiliar. “Eles estavam apenas conseguindo coleta no fim de feira. Imagina. Um lar vicentino? Não, chamei então a Conferência para integrar o projeto. E daí decidimos que iriamos dar parte do dinheiro para a compra das frutas, hortaliças e legumes e o resto conseguiríamos com os benfeitores, já que os amigos do Ceasa faleceram ou se mudaram. E assim está sendo feito até hoje. Ajudamos os dois lares e as cinco famílias assistidas. Isso é de lei e do alho e cebola às frutas, a gente entrega tudo.. Faço a lista semanalmente”, conta.
E haja empenho para conseguir bater a meta. A Conferência fornece, em média, de 500 a 600 kg de frutas, verduras e legumes semanalmente. O custo semanal para a Conferência e seus benfeitores (dentre eles, outros familiares de Seu Luiz, vicentinos de outras Conferências) varia entre R$ 800,00 e R$ 1.000,00. “As mercadorias são adquiridas, separadas e entregues no lar, pelo Luiz ou por algum membro da Conferência. Não importa se há saldo ou não, a caridade sempre acontece. Esse trabalho não vem do bolso ou da coleta, mas sim do coração de Luiz e de seus benfeitores, com zelo e dedicação, algo que ele implantou em todos os membros da Conferência”, conta o sobrinho Irani Campos, vicentino que faz parte do trabalho há 30 anos.
Seu Luiz explica com o coração: “Parece brincadeira, mas, só através da Conferência, são 33 anos de trabalho. Um sobrinho meu até brincou que isso não deixa ninguém mais rico ou mais pobre. Mas eu digo: mais pobre não, mas mais rico, com certeza. A gente faz isso com muito amor. Esses lares e nossos assistidos são uma extensão da família. Se eu faltar, eu sei que a Conferência, os filhos e os sobrinhos vão continuar”, diz ele.
Ao final da entrevista, seu Luiz fez um pedido: “Não fala do meu nome, coloca só o trabalho da Conferência!” Mas como fazer isso? Seu Luiz plantou essa semente, que tem dado tantos frutos e se fez um exemplo que arrasta. E agora leitor (a), você concorda comigo?





