O Feixe de Varas e o Pão de Cada Dia
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O Feixe de Varas e o Pão de Cada Dia

Na pequena vila de chão batido, cercada por roças e um rio manso, vivia Ana, uma mãe dedicada que fazia do trabalho uma oração. Tinha três filhos bem diferentes: Lucas, o impetuoso que agia antes de pensar; Helena, cuidadosa e firme como terra molhada; e Tiago, o sonhador, que via caminhos onde os outros viam cercas. Juntos cuidavam das cabras, do forno de barro e do pequeno quintal que lhes dava o pão de cada dia.

Todas as manhãs, Ana acendia uma vela diante de uma pequena cruz de madeira e rezava o Pai Nosso, pedindo paciência e coragem. O Ancião Sábio Benício passava às vezes pela rua central, com passos curtos e um olhar que parecia ouvir antes de falar. Era respeitado não por impor, mas por lembrar a todos que o simples é grande quando é vivido com amor. Ele observava a família de Ana com carinho, como quem reza por dentro e guarda no coração aquilo que precisa ser dito no tempo certo.

Um fim de tarde, uma ventania forte rasgou o telhado do galpão e rachou o forno de barro. Parte da horta se perdeu sob a água pesada, e o saco de trigo ficou quase no fim. O medo bateu à porta. Lucas quis vender a melhor cabra para comprar tijolos; Helena queria racionar e pedir ajuda aos vizinhos; Tiago falava em ir à cidade buscar um empréstimo e uma ideia. As vozes subiram, as portas se fecharam, e a proximidade do frio ameaçava não só o sustento, mas a paz da casa e a própria convivência entre eles.

No dia seguinte, Benício chamou os quatro para a sombra de uma figueira e colocou no chão um feixe de varas apertadas. Pediu que cada um tentasse quebrá-lo. Ninguém conseguiu. Então desatou o laço e, uma a uma, as varas se partiram com um estalo tímido. Em seguida, mostrou pequenas porções de massa em latas separadas e outra massa unida em uma assadeira; o calor do forno comunitário, quando disperso, falhava, mas, quando juntaram, o pão cresceu. Ana murmurou em silêncio que entendeu o recado, e os filhos abaixaram os olhos como quem reconhece a verdade simples que estava faltando.

Ana respirou fundo e falou com ternura firme; então cada um pediu perdão. Lucas reconheceu a pressa que machuca; Helena admitiu a dureza que pesa demais; Tiago aceitou que a fuga pelos sonhos deixa os outros sozinhos. Eles se abraçaram e rezaram juntos, pedindo que o Senhor aquecesse o coração como brasas. Depois traçaram um plano: Lucas lideraria a reconstrução do forno com barro e tijolos; Helena cuidaria dos grãos e organizaria a partilha com quem ajudasse; Tiago negociaria trocas justas e levaria música à noite para animar o mutirão e renovar as esperanças.

A notícia correu a vila e, em poucos dias, braços e histórias encheram o quintal. O novo forno ganhou forma, e o primeiro pão saiu com cheiro de esperança. O pouco virou bastante porque ninguém guardou só para si. Benício sorriu de longe, contente por ver que a lição não ficou na palavra. A casa de Ana voltou a cantar, e a desavença, que ameaçava a harmonia e o sustento, foi vencida por algo mais forte e discreto: a escolha de permanecerem juntos e de repartir o que eram, antes de repartir o que tinham.

União é forno que transforma farinha em pão; perdão é fogo que não queima, aquece; fé é lenha que não se vê e mantém o calor.

Assim, a família aprendeu que discutir o problema separa, mas trabalhar com humildade aproxima e salva. Em cada pedra assentada houve um pedido de perdão, e em cada pão repartido, um voto de confiança. Quando o dia apertar, lembremos desta parábola simples: o que sozinho se quebra, junto resiste; e onde a caridade reina, Deus faz brotar o amanhã, porque a graça floresce quando os corações se perdoam e a mão estendida vale mais do que qualquer cálculo apressado.

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