Era mais uma manhã na vila de Sol Nascente. O galo da família Souza, chamado Carcará, já ensaiava seu canto, servindo de alarme para todos ali. A pequena vila era acostumada a acordar com os cantos matinais. Era um som que anunciava esperança, possibilidades e o começo de mais um dia.
Numa casa simples, de janelas abertas para o sol que surgia, a mãe preparava o café. Joana era seu nome, e com ela estavam seus dois filhos, Miguel e Lúcia. Cada um no seu ritmo matinal, meio sonâmbulos, sempre embalados pela melodia do galo.
— Meninos, venham tomar café! — Joana chamava, com doçura na voz.
— Já vai, mãe! — respondia Lúcia, desembaraçando os cabelos com os dedos.
— Será que Carcará já cantou hoje? — Miguel tinha um carinho especial pelo animal.
— Já sim, filho. Ele nunca falha — afirmou Joana com um sorriso.
Carcará não era apenas um galo, era um membro da família e símbolo da comunidade. No entanto, existia alguém que não apreciava seu canto: o Senhor Carranca, um homem que morava na casa ao lado e que não gostava de acordar cedo.
— Esse galo insuportável — resmungou Senhor Carranca, virando-se na cama, tentando ignorar o canto.
Certa manhã, o canto de Carcará foi interrompido. A vila inteira sentiu o silêncio. Era um vazio no ar. As pessoas pareciam perdidas sem aquele som que as unia todas as manhãs.
— Mãe, por que Carcará não cantou hoje? — perguntou Miguel, preocupado.
— Não sei, filho. Vamos ver o que aconteceu — respondeu Joana, com um pressentimento ruim no coração.
Saíram para o quintal e, para surpresa de todos, Carcará não estava lá. Tudo o que encontraram foram penas e pegadas que levavam à casa do Senhor Carranca.
— O que vamos fazer, mãe? Carcará era nosso amigo… — Lúcia estava à beira das lágrimas.
— Vamos conversar com o Senhor Carranca. Nossa comunidade precisa de Carcará. Ele nos une, nos desperta para a vida. É a nossa música matinal — falou Joana, determinada.
A família Souza, junto à comunidade, decidiu enfrentar o vilão do silêncio. Foram até a casa do Senhor Carranca, e com palavras de bondade e união, expressaram como o galo era importante para todos.
— Senhor Carranca, por favor, você não vê? O canto dele é mais que um simples canto. É um sinal de comunhão, uma forma de estarmos juntos — Miguel falava, olhando nos olhos do vizinho.
Comovido e um pouco envergonhado, o Senhor Carranca devolveu Carcará, que voltou ao seu lar, pronto para acordar a vila no dia seguinte.
Com o retorno do galo, a comunidade sentiu seus laços se fortalecerem mais ainda. Carcará não era apenas um simples galo. Era a voz da alvorada, o símbolo que mantinha todos em harmonia.
Desde então, mesmo o Senhor Carranca aprendeu a apreciar o canto de Carcará. E quando o galo soava sua nota mais alta, anunciando o novo dia, era como se um novo entendimento entre o homem e a natureza, entre os vizinhos, tivesse nascido.